"Foi-se o pistoleiro maluco!
Que a Venezuela reencontre o caminho da democracia......
A morte de Hugo Chávez revela que estamos vivendo dias um tanto sombrios.
Os valores da democracia estão em crise. Basta ler o noticiário para constatá-lo.
Chego à conclusão de que os idiotas e os simpatizantes de tiranias supostamente virtuosas estão no comando de alguns veículos da imprensa, ainda que eles próprios dependam vitalmente da liberdade. Por que escrevo isso? Vamos ver.
A antiga pauta de esquerda — a revolução socialista — foi definitivamente aposentada. Assumiu, ao longo do tempo, uma nova configuração, bem mais fragmentada.
Vivemos sob o signo da reparação das chamadas “injustiças históricas”: com os pobres, com os negros, com os indígenas, com as mulheres, com os gays, com os quilombolas, com a natureza… Escolham aí. A cada pouco surge uma nova “minoria” — sociologicamente falando — disposta a impor a sua pauta como precondição para a justiça universal.
É evidente que não tenho nada contra a justiça, ora bolas!
Por que não seria eu também um homem tão bom quanto os ciclistas, por exemplo?
É claro que sou!
É alguém me falar do bem, do belo e do justo, e estou dentro, estou com os bacanas.
Se todo mundo quer um mundo perfeito, não serei eu a ficar fora dessa festa.
A questão é saber como essas reparações todas serão realizadas no âmbito da democracia, de uma sociedade de direito, que respeite os direitos individuais.
Governar com ditadura é fácil; com democracia é que é o “x” do problema.
Cansei de ler nestes dois dias alguns raciocínios perigosos.
Eles consistem basicamente na aceitação tácita de que a melhoria de alguns indicadores sociais na Venezuela — e houve — estão atreladas ao “modelo” inventado por Hugo Chávez.
O desemprego, com efeito, caiu de 14,5% em 1999, quando ele chegou ao poder, para 8% no ano passado. Mas também chegou a 18% em 2003, no seu quinto ano de governo.
Já a inflação era de 29,9% em 1998, quando ele foi eleito pela primeira vez, e chegou a 33% no ano passado. O seu menor índice foi em 2001, com 12%.
O IDH subiu de 0,656 para 0,735 em 2011 e passou, por exemplo, o do Brasil.
Não é segredo para ninguém que Chávez usou o dinheiro farto do petróleo para empreender um forte programa assistencialista. E é esse assistencialismo que garante a adesão entusiasmada dos mais pobres a seu governo. Também é claro as ditas elites tradicionais da Venezuela estavam entre as mais corruptas e socialmente insensíveis do mundo — o que acaba facilitando a emergência de líderes com o seu perfil. Vale para a Venezuela, a Bolívia, o Equador… Mas a rapacidade das ditas-cujas justifica o modelo bolivariano?
Chávez tomou, sim, iniciativas que minoraram o sofrimento dos mais pobres. Isso não está em debate. A questão é saber por que ele precisava da ditadura.
A questão é saber por que ele precisava apelar a um regime de força. Essas perguntas não têm resposta porque simplesmente a pantomima bolivariana era desnecessária.
Lula também tentou impor alguns instrumentos de exceção no Brasil.
Não conseguiu — não ainda ao menos.
E nada impediu o petismo de levar adiante a sua "lenda".....
O presente que corrói o futuro Chávez transformou a Venezuela no, se me permitem, país da manocultura do petróleo.
Estão lá 25% das reservas mundiais do óleo. Enquanto ele for uma matriz energética — e será ainda muito tempo —, é evidente que o país contará com dinheiro para manter as políticas assistencialistas, ainda que produza muito menos do que pode.
Notem: essas políticas não são um mal em si.
Mas para que futuro apontam quando se tornam um fim em si mesmas?
Apontam para o desastre.
Chávez acabou com o que havia de agricultura de ponta na Venezuela, por exemplo.
O país não produz mais comida.
Expropriou empresas estrangeiras, espantou o capital privado e transformou milhões de venezuelanos em estado-dependentes.
Sem a diversificação da economia — impossível no regime bolivariano —, assim continuarão.
O petróleo responde por 50% das receitas do governo e constitui quase 100% da receita de exportação.
Nas palavras do economista venezuelano Moisés Naim ao Wall Street Journal: “Nunca um líder latino-americano perdeu tanto dinheiro, gastou tão mal os recursos e usou de maneira tão incorreta o poder que lhe foi dado”.
Na mosca!
Os tontos Não, senhores!
O autoritarismo de Chávez não era uma espécie de mal necessário a justificar, então, um bem — a saber: a redução da pobreza e a diminuição da desigualdade.
Esse e um juízo delinquente e está na raiz, diga-se, das exegeses malandras sobre o 54 anos da ditadura cubana.
Durante décadas, o suposto bem-estar social de Cuba serviu para ocultar os crimes dos irmãos Castro.
Pelo menos cem mil pessoas morreram (17 mil fuziladas; as demais tentando fugir da ilha) sob o silêncio cúmplice do resto do mundo para que se construísse por lá aquele paraíso…
Mas os tempos — e então volto ao ponto central deste texto — andam simpáticos às ideias de reparação a qualquer preço.
Se Chávez sucedeu as ditas “elites insensíveis” de antes, então tudo lhe seria permitido, inclusive a violação dos fundamentos mais comezinhos da democracia e, não custa notar, do direito internacional.
Nem mesmo se pergunta o óbvio: como poderia estar hoje a Venezuela se ele não tivesse destroçado a economia do país? Os ditos programas sociais poderiam estar em vigência, certo? Por que não? Talvez houvesse menos venezuelanos trabalhando para órgãos estatais ou dependentes da ajuda oficial. Certamente o povo seria mais livre.
Chávez distribuiu, sim, parte da riqueza do petróleo por intermédio desses programas, com os quais cevou o eleitorado. Mas roubou, e por muitos anos, o futuro do país, que terá de ser reconstruído — a começar das instituições.
Exportador da “revolução” e importador do terrorCumpre lembrar, ainda, do Chávez “exportador da revolução”.
Meteu as patas no Equador, na Bolívia e até na Argentina. Enviou uma mala com US$ 800 mil para ajudar a financiar a primeira eleição de Cristina Kirchner. I
nspirou a tentativa de golpe em Honduras e depois tentou articular, com a ajuda do Brasil, uma guerra civil naquele país.
Armou, isto ficou comprovado, os narcoterroristas das Farc, da Colômbia, e se fez seu interlocutor privilegiado.
Em Caracas, há uma praça com o nome do fundador do grupo: Manuel Marulanda. Atenção!
Quando o coronel tentou dar um golpe na Venezuela, em 1992, os narcoterroristas lhe enviaram 100 mil pesos — mais ou menos US$ 50 mil à época.
No poder, o ditador repassou para os bandidos estupendos US$ 300 milhões. As informações estavam no laptop do terrorista morto Raúl Reyes.
É pouco? Chávez celebrou acordos de cooperação militar E NUCLEAR com o Irã, e o Hezbollah, movimento terrorista baseado no Líbano e que é satélite do país dos aiatolás, estabeleceu uma base de operações na Venezuela.
As relações do estado venezuelano com o narcotráfico também já estão mais do que evidenciadas. Em abril do ano passado, o juiz Eladio Aponte Aponte, da Corte Suprema do país, fugiu para a Costa Rica. Pediu para entrar no sistema de proteção que a agência antidrogas dos EUA oferece aos delatores considerados importantes. Confessou que, a pedido do governo, atuou para proteger o narcotráfico. Nada menos de metade da cocaína que entra nos EUA tem origem na Venezuela. Leiam trecho de reportagem de O Globo de 7 de maio de 2012
[o juiz] deu como exemplo um caso no qual está envolvido um ex-adido militar venezuelano no Brasil, o tenente-coronel Pedro José Maggino Belicchi. Segundo o juiz-delator, Maggino Belicchi integra a rede militar que há anos utiliza quartéis da IVª Divisão Blindada do Exército da Venezuela como bases logísticas para transporte de pasta-base e de cocaína exportadas por facções da Farc, a narcoguerrilha colombiana. O tenente-coronel foi preso em flagrante no dia 16 de novembro de 2005, com outros militares, transportando 2,2 toneladas de cocaína em um caminhão do Exército (placa EJ-746).
Na presidência da Suprema Corte, Aponte Aponte diz ter recebido e atendido aos apelos da Presidência da República, do Ministério da Defesa e do organismo venezuelano de repressão a drogas para liberar Magino Belicchi e os demais militares envolvidos. Faz parte da rotina judicial venezuelana, ele contou na entrevista à televisão da Costa Rica.
O general Henry de Jesus Rangel Silva, citado pelo juiz-delator, comandou a Quarta Divisão Blindada, uma das unidades mais importantes do Exército venezuelano. Desde 2008, ele figura na lista oficial de narcotraficantes vinculados às Farc colombianas e cujos bens e contas bancárias estão interditados pelo governo dos Estados Unidos. Em janeiro, o presidente Hugo Chávez decidiu condecorá-lo em público e promovê-lo ao cargo de ministro da Defesa. “Rangel Silva é atacado”, justificou Chávez em discurso.
(…)
Encerrando - Alguns indicadores sociais da Venezuela melhoraram, sim. É obrigação dos governos. O mesmo se deu em países que se mantiveram no rumo democrático. A ditadura, pois, foi uma escolha de Chávez e de sua camarilha que independe dessa ou daquela medidas.
O cem por cento idiota deixa um país com as instituições em frangalhos, com a economia combalida, com uma inflação da ordem de 30%, infiltrado pelo terrorismo e pelo narcotráfico.
O homem que morre, reitero, merece piedade, como qualquer um. O ditador, no entanto, nunca deveria ter existido. A América Latina está mais sã. Agora é preciso desalojar, pela via democrática e pela luta política, a camarilha criminosa que está no poder...." - Por Reinaldo Azevedo