OPINIÃO -
(por Roberto Campos - Roberto de Oliveira Campos foi um economista, diplomata e político brasileiro. Ocupou os cargos de deputado federal, senador e ministro do Planejamento no governo de Castello Branco...)
BRASIL: A DEMOCRACIA MASOQUISTA
"A burrice no Brasil tem um passado glorioso e um futuro promissor....
O grande pensador seminarista mato-grossense nos brindou ao longo de sua existência com analises inteligentes e sarcásticas a respeito da vida nacional.
Embora tenha nos deixado há 15 anos atrás, muito do que disse continua válido e eternamente útil.
Roberto Campos (Abr/1917 – Out/2001)
Vejamos o que escreveu num dos artigos apresentados no seu livro “Além do Cotidiano”:
"O Brasil parece particularmente vulnerável à perversão de objetivos.
Assim, por exemplo, a Revolução de 1930 tinha por objetivo eliminar o “voto falso”.
Mas Getúlio Vargas acabou eliminando todos os votos – falsos e verdadeiros.
Proclamou a teoria de que o “voto não enche barriga”.
E paradoxalmente, o ditador foi depois eleito pelo voto popular.
O que significa que nossa democracia tem um toque de masoquismo…
Já a revolução de 1964 foi feita para conter a onda socializante do anarco-sindicalismo.
E acabou socializando mais ainda, pois o grau de estatização – mais de dois terços da poupança e quase metade do dispêndio nacional – constitui síndrome aguda do criptossocialismo.
Em outro trecho do livro de Campos nos traz mais uma deformação de objetivos de trágicas consequências para os brasileiros....
Se prevalecesse o desígnio de Presidente Castello Branco, a intervenção militar teria sido missionária e cirúrgica.
O objetivo seria o saneamento financeiro e a restauração democrática, ameaçada esta pelo anarco-sindicalismo.
Uma sucessão civil e a nova constituição de 1967 permitiriam aos militares regressarem ao seu papel moderador, e a “reserva moral” da Nação para situações de emergência, sem a corrosão do cotidiano administrativo e a insidiosa corrupção do poder.
Acabaram permanecendo 21 anos no poder.
Recentemente podemos entender que houve mais uma deformação de objetivos, pelo menos aqueles apresentados aos eleitores.
A escolha do Partido dos Trabalhadores para governar o Brasil estava baseada no combate à corrupção (não podemos esquecer da propaganda dos ratos roendo a bandeira nacional) e a melhor distribuição de renda para reduzir a desigualdade social.
Os resultados foram bastante diferentes daquilo que foi proposto.
Ao fim trágico do período Lula/Dima o que verificamos é que grandes empresários nacionais receberam benefícios fiscais, empréstimos com juros subsidiados pelos nossos impostos, favorecimentos diversos que apenas serviram para o enriquecimento dos “campeões nacionais” escolhidos pelo PT de forma a garantir recursos para financiar suas campanhas com objetivo de se eternizarem no poder....
Quanto à distribuição de renda não temos resultados muito melhores do que antes, todo efeito benéfico do crescimento global da primeira década do século XXI que favoreceu a ascensão de muitos da situação de pobreza para uma condição considerada classe média está sendo anulada pela crise que seria uma marolinha e virou uma ressaca econômica nunca antes vista na nossa história, deixando um número enorme de desempregados.
Sem falar que a mesma “insidiosa corrupção do poder” que infectou os militares no século passado também contaminou de forma intensa os petistas que se lambuzaram todos com o melado que nunca haviam experimentado.
Esperamos que nossa democracia esteja se curando dessa tendência masoquista que Roberto Campos muito bem diagnosticou e quem tem custado muito caro ao nosso país..."
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Bom....Isso explica um pouco desse distúrbio masoquista da jovem democracia brasileira.
Apesar das imperfeições o modelo democrático continua sendo o melhor....