OPINIÃO -
"A GRAÇA DE ENVELHECER...." (por Francisco I. Pereira)
".....A tragédia da velhice consiste não no fato de sermos velhos, mas sim no fato de ainda nos sentirmos jovens”. (Oscar Wilde)
'Onde está a graça do envelhecimento?
Por que tarda o encontro?
Por que não a encontro?
Já procurei em todos os quadrantes da vida.
Em mim já procurei, aqui não está; em minha volta não a encontrei; procurei distante, foi em vão.
Estendi minha busca aos caminhos por aonde andei, só encontrei o registro da minha passagem nos fios de cabelos brancos caídos pelos caminhos, provocando em mim a calvície que tanto me mete medo.
Meus músculos, antes rígidos, murcharam como murcham as plantas por falta de chuvas; minha pele enrugou como se antes houvesse envolvido um corpo bem maior; encurtei meus passos com medo de cair e me machucar…
O caminho é longo, mas tenho de seguir.....
Busquei a graça de envelhecer, no soneto “Velhas Árvores” de Olavo Bilac.
No primeiro terceto em que o fantástico poeta diz:
“Não choremos, amigo, a mocidade! /envelheçamos rindo! Envelheçamos/ como as árvores fortes envelhecem”.
Poderia estar aí uma motivação para envelhecer, mas não está.
Os sons emitidos pelos velhos galhos ao sofrerem a ação do vento, mais me parecem gemidos do que risos; o farfalhar das folhas, simbolizam a debandada de pássaros fugindo de predadores; a queda das flores para surgimento dos frutos é como a morte de um ser para o nascimento de outro… nada, nada significa riso; tudo, tudo, sugere choro....
Procurei nas sábias palavras de um filho (“O envelhecimento é um processo natural da vida, a tristeza não!”).
Foi em vão.
Encontrei palavras de encorajamento, de riso, não.
De repente, não mais que de repente, encontrei motivação para continuar minha caminhada, no sorriso de uma recém-nascida (uma neta).
Leio no seu sorriso – apenas no sorriso – sem uma palavra sequer.
Parece dizer: preciso correr para seus braços, sentir o calor de seus abraços; quero caminhar sozinha, sabendo que existe alguém à minha retaguarda que, ao primeiro sinal de fragilidade, estará pronto a me apoiar; ouvir de você estórias e histórias, antes passadas na sua caminhada; trilhar caminhos nunca por mim andados, indicados por quem já os andou, usar atalhos possíveis para encruzilhadas prováveis; atravessar a rua segurando a sua mão, não para lhe dar segurança, mas para me sentir segura e quando chegar do outro lado da rua, a você terei acrescentado alegria e a mim, sabedoria....
Estará aí, talvez, a tal motivação para o envelhecimento com qualidade de vida....
Mas, “pelo sim, pelo não,” prefiro continuar jovem.
Quando alguém encontrar a "fórmula mágica" para o envelhecimento com qualidade de vida, traga para mim, antes que velho eu fique, e será generosamente gratificado....'