DA SERIE: PROSA & POESIA
"A Tabacaria"
Não sou nada....
Nunca serei nada....
Não posso querer ser nada...
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.....
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo.
que ninguém sabe quem é....
( E se soubessem quem é, o que saberiam?!),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,...
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,...
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,...
Com a morte a por umidade nas paredes
e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.....
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade....
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,...
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua,
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada...
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida....
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.....
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,...
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro....
Falhei em tudo....
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada....
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa..."