POLÍTICA & ECONOMIA - O Brasil enferruja
'Todo ano tem sido assim.
Entra janeiro e somos brindados com previsões positivas, alvissareiras, quase róseas para o período que começa.
Avançam os meses e a chata realidade vai teimando em se impor:
os prognósticos vão turvando, as perspectivas ficam mais sombrias, o futuro menos alentador. Parece que vamos ver este mesmo filme em 2013, de novo.
Os maus resultados se sucedem.
A frustração e o desalento vão se tornando a tônica.
O que é preciso ser feito nunca o é, num repetitivo empurrar com a barriga.
Velhos problemas continuam sem ser enfrentados, ao mesmo tempo em que a leniência faz com que novos comecem a ganhar corpo.
Quando age, o governo logo volta atrás, desfazendo o pouco que fez.
A semana passada foi pródiga em resultados ruins.
O governo gasta como nunca e vê seus resultados fiscais minguarem, mas nem se importa mais com isso. Segundo quem manda hoje na equipe econômica, o importante agora é ter "liberdade" para gastar quanto quiser, como disse Arno Augustin, secretário do Tesouro.
Ou seja, o bem sucedido "modelo" baseado na responsabilidade fiscal morreu.
Logo depois, veio a rubra balança comercial do quadrimestre, tingida de déficits do princípio ao fim.
O Brasil encolhe sua inserção no mundo, apequena-se sob um manto protecionista que só interessa a setores industriais muito frágeis e vê sua participação no comércio global minguar.
O fantasma do risco externo ganha corpo....
O turbilhão negativo completou-se com os resultados da indústria brasileira no início do ano. O setor fechou o primeiro trimestre com queda de 0,5% na comparação com o mesmo trimestre de 2012.
Foi o suficiente para por em dúvida as perspectivas para o segmento e, mais ainda, para a economia do país como um todo neste ano.
Bastou o IBGE divulgar os números de março para que consultorias e analistas saíssem em disparada revisando suas projeções de crescimento para baixo.
Crescer 3% passou a ser considerado teto para o PIB brasileiro de 2013.(!)
Oxalá, pelo menos consigamos chegar lá, porque, pelo andar da carruagem, nossa trilha parece ser ladeira abaixo....
A indústria avançou 0,7% em março, depois daquele tombo feio em fevereiro, quando tivera queda de 2,4%, a pior desde a crise de 2008. Mas o setor cresceu apenas cerca de metade do que se previa.
(Pelo menos o segmento de bens de capital, que costuma indicar como se comportarão os investimentos, teve bom desempenho: alta de 9,8% na comparação com o primeiro trimestre de 2012.)
Como o consumo local ainda não deixou de subir, conclui-se que, necessariamente, o mercado nacional está sendo abastecido por mais artigos importados.
As estatísticas corroboram a suspeita: enquanto a produção industrial brasileira caiu no trimestre, o volume importado subiu 8% quando comparado ao período de janeiro a março de 2012, segundo o Valor Econômico.
Com a indústria local tendo cada vez menos condições de competir com os concorrentes estrangeiros, a balança comercial do setor passou a exibir déficits gigantescos. O Globo mostra hoje que, de um superávit comercial de mais de US$ 5 bilhões em 2006, a segmento de manufaturados passou a um déficit de US$ 95 bilhões no ano passado.
"E o mais preocupante é que a tendência continua sendo de alta."
Quanto maior o valor agregado, maior a dependência em relação ao produto importado. Setores como químico, têxtil e confecções, autopeças, bens de capital, automóveis e eletroeletrônicos figuram entre os mais deficitários - na semana passada, o Iedi mostrou que, neste caso, o rombo já ultrapassa US$ 16 bilhões até março deste ano.
Tudo isso acontece a despeito de o governo federal ter editado uma fornada de pacotes de incentivo - são quase 20 desde 2008 - e distribuído benesses fiscais aos borbotões - só em 2012, foram R$ 46 bilhões em renúncias, valor que tende a ser ainda maior neste ano.
Como as ações são desconjuntadas, aleatórias, feitas à base de "puxadinhos", os efeitos positivos não aparecem.
A indústria do Brasil está num círculo vicioso que a aprisiona numa armadilha de baixo crescimento e de quase nenhuma perspectiva, se forem mantidas as condições atuais:
custos altos,
burocracia sem igual,
carga tributária sem concorrentes e infraestrutura em frangalhos.....
Se nada novo, e sério, for feito, o destino das nossas cada vez menos competitivas fábricas será a ferrugem....'
Fonte: Instituto Teotônio Vilela