SETOR: ADVOCACIA
Entrevista: “A tendência é que todo escritório tenha alguém de marketing.....”
Por enquanto, o publicitário Alexandre Motta é um homem solitário no mundo jurídico.
Os escritórios de advocacia não costumam dar muita bola para redes sociais, imagem institucional, ações de prospecção, e outros conceitos basilares do marketing.
Formado em Publicidade e Propaganda pela FAAP, pós-graduado pela ESPM e tendo concluído uma especialização na Califórnia, Alexandre Motta — por meio de sua empresa de consultoria Inrise — prega aos quatro cantos que as bancas só têm a ganhar caso passem a se dedicar um pouco à publicidade.....
“A tendência é que todo escritório tenha uma pessoa de marketing”, projeta Motta, almejando um futuro em que não seja preciso testemunhar tantos atos de descaso com a marca.
Presente na 9ª edição da Fenalaw, Alexandre Motta falou ao Última Instância sobre as possibilidades dentro do marketing jurídico e as restrições impostas pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) via Código de Ética e o chamado Provimento 94.
Na entrevista abaixo, o consultor deu exemplos do que pode e o que não pode no marketing jurídico, citou as tendências do setor e comparou a situação brasileira com a de outros países mais flexíveis.
Última Instância — O que torna o marketing jurídico um setor tão específico?
Alexandre Motta — Marketing jurídico é a mesma coisa que o marketing comum, mas respeitando as leis do Código de Ética e do Provimento 94. Estes dispositivos são a regra do jogo. Todo advogado pode fazer uma série de ações em termos de marketing, mas deve sempre respeitar o Código de Ética, e isso limita muito as ações que ele pode fazer.
São muitas as ações de marketing proibidas pelo Código de Ética? Por exemplo, quais?
Motta — Existe muita coisa pra ser feita, desde que você sabia fazer da maneira correta. Por exemplo, o advogado pode ser convidado para palestrar, mas não pode ministrá-la no seu próprio escritório. O que não pode é tentar vender o escritório em função da palestra. Outra coisa: o advogado não pode colocar anúncio na televisão. Independente do conteúdo, ele não pode veicular sua mensagem na televisão. Nos EUA, é diferente. Lá, os advogados fazem o que querem: televisão, revista, jornal. É um dos países com a legislação mais avançada a respeito. Eu passei um tempo no país e quando você liga a televisão, nos intervalos comerciais vê: uma propaganda de margarina, uma de advogado, uma de carro, uma de advogado. É super explícito. E não é uma peça institucional em que ele fala do escritório, aquela coisa sutil. É algo do tipo: ‘se você sofreu um acidente de carro, saiba quais são os seus direitos. Venha para nós que ganhamos 98% das causas. Eu vou te transformar em milionário’.
Essa liberalização é algo positivo para os escritórios?
Motta — Tudo depende do institucional que cada um quer passar para o mercado. Se você fizer uma propaganda agressiva, as pessoas vão te ver como agressivo.
Há punições para quem infringe as normas?
Motta — O TED (Tribunal de Ética e Disciplina) da OAB é responsável por apurar as irregularidades, primeiro distribuindo advertências e depois, eventualmente, pode até revogar a carteira da Ordem. Mas, na verdade, muitos advogados reclamam que quem está fazendo a coisa errada e cometendo irregularidades não está sendo punido adequadamente.
Quais são as perspectivas de flexibilização na legislação sobre marketing jurídico?
Motta — Acredito que ainda vá demorar muito para ocorrer um movimento de abertura do marketing geral, abrir a porta do Código de Ética para que qualquer ação do advogado seja liberada. Pelos próximos dez anos, pelo menos, é muito difícil que isso aconteça.
Que conselhos daria a um escritório recém aberto que quer estruturar o básico da sua parte de marketing?
Motta — O mais importante de tudo é criar uma imagem institucional fortalecida. E para fazer isso, no mínimo cinco elementos o escritório — de qualquer porte — precisa ter: logotipo, site, folder impresso, folder digital e newsletter. Esses cinco aspectos são o que há de mais básico para criar uma imagem corporativa no mercado. Eu diria que 80% do mercado não têm hoje esses cinco elementos. Têm uma ou outra, mas todas, são poucos.
E as redes sociais? São uma boa ferramenta?
Motta — As redes sociais também são importantes, mas há um problema. Os escritórios de advocacia não costumam ter uma pessoa de marketing dentro do seu staff. E é essa pessoa que deve controlar as redes sociais. Não adianta criar a conta na rede social e não postar nada, não faz sentido. Com uma rede social morta, assim como um site parado ou uma newsletter desativada, o escritório perde credibilidade.
No futuro, os escritórios tendem a ter uma pessoa direcionada para o marketing da banca?
Motta — Acredito ser uma tendência que em todo escritório tenha uma pessoa focada no marketing, tanto na estruturação institucional, quanto na prospecção; ou seja, com pessoas que agendem de reuniões para conseguir novos clientes. Independente do tamanho do escritório, fazer marketing demanda muito tempo.
Os advogados ainda acham que marketing é fazer uma ou outra ação.
E não é: são várias ações ao mesmo tempo. Hoje, eu diria que estão disponíveis umas 50 ferramentas diferentes de marketing para cuidar. Imagina fazer isso e ao mesmo tempo advogar?!?...."
(Agradecimentos InRise)