sábado, 3 de março de 2012

'A SÍNDROME DA "BOAZINHA"...'


"A síndrome da Boazinha"
Nota: Livro discute compulsão por agradar e porque as mulheres são as vítimas mais freqüentes dessa forma de autosabotagem

(texto de Verônica Mambrini)

Falta tempo na sua vida? 
Volta e meia você se pega em meio a situações desagradáveis, tarefas chatas e favores que não queria fazer? 
Você pode estar sofrendo da Síndrome da Boazinha. 
O termo foi cunhado pela PhD em psicologia, Harriet B. Braiker, em livro homônimo e se refere à compulsão por agradar.

Mas o que pode existir de errado em querer agradar?

"Como agradadora compulsiva", explica a doutora Braiker, "seus botões de sintonia emocional estão embaralhados na frequência do que você acredita que os outros querem ou desejam de você"
A consequência lógica de estar sempre com foco no desejo do outro é que você acaba não ouvindo sua própria voz interior "que pode estar tentando protegê-la de se desgastar demais ou de agir contra seus próprios interesses"
A compulsão de agradar afeta a forma como você pensa, sente e age no mundo. 
Em função disso, a autora do livro 'Síndrome da Boazinha'  traça três perfis diferentes de 'agradadoras' motivadas por: 
pensamentos distorcidos, opressivos e derrotistas, que nascem da ideia de que todos precisam gostar de você; 
comportamentos compulsivos que fazem com que você sempre busque satisfazer as necessidades dos outros antes das suas, na ânsia de obter a aprovação de todos; 
e, finalmente:
a tentativa de fugir de sentimentos negativos ou assustadores e evitar a ansiedade, muitas vezes no limite do suportável, que a menor ameaça de conflito gera em você.

Para a psicóloga Margareth dos Reis, um dos motivos da compulsão por agradar é o medo da avaliação externa. 
“A pessoa busca reconhecimento e aprovação, e sofre com o receio de ser responsável pelo que o outro pensa”, afirma a psicóloga.

É como se ela achasse que fazendo tudo para agradar o outro, conseguiria evitar reações negativas. 
“É normal ter desejo de ser aprovada, assim como ter medo de ser rejeitada. Mas viver em função disso não é bom.”

A primeira tarefa é lidar com a capacidade de dizer 'não'.

O problema de não saber dizer “não” vai além defazer você sentir-se permanentemente sobrecarregada. “É sintoma de um sentimento de insegurança diante da vida e até de falta de um repertório para se posicionar”, afirma a psicóloga. Geralmente, a pessoa não está bem sintonizada com suas próprias necessidades. “Ela só sabe dizer ‘não’ para si mesma.

Para quebrar esse círculo vicioso, a especialista sugere pequenos passos, como escolher determinada situação e expor um ponto de vista contrário ao de um interlocutor qualquer, mesmo que isso gere uma situação emocionalmente desconfortável. “Nem sempre a gente recebe aprovação o tempo todo e de todo mundo, faz parte da vida. O que pode nos confortar é a segurança de estarmos fazendo a melhor escolha possível em cada momento”, afirma Margareth.

Para o filósofo Luiz Felipe Pondé, a mania de agradar é um problema de nosso tempo. 
“A gente vive um contrato social em que todo mundo tem que fingir que ama todo mundo, e que todo mundo acha todo mundo legal”, afirma. “Na vida em sociedade tem-se que hipotecar um monte de coisas, inclusive essa negatividade que faz parte do ser humano.”

Embora admita que o "não", ou a atitude de não sentir-se compelido a agradar, possa causar algum prejuízo prático, ele acha que é uma postura que vale a pena no longo prazo. “Suspeito que o ‘não’ pode tornar a pessoa mais desejada, em vários sentidos”.

Dizer “sim” o tempo inteiro é uma espécie de “prisão a céu aberto” para o filósofo. 
“Uma mulher que faz isso se dá menos valor. 
O desespero e a ilusão de que vai conseguir ser feliz é tão grande que muitas mulheres aceitam esse comportamento”.

Ele critica também essa ilusão de "felicidade" - a partir da ausência de conflito.

“As pessoas fazem um esforço neurótico para evitar os pequenos desgostos e frustrações, mas não tem saída. O universo é um grande 'não' na sua cara, é o contrário da autoajuda.” (...)