"A síndrome da Boazinha"
Nota: Livro discute compulsão por agradar e porque as mulheres são as vítimas mais freqüentes dessa forma de autosabotagem
(texto de Verônica Mambrini)
Falta tempo na sua vida?
Volta e meia você se pega em meio a situações desagradáveis, tarefas chatas e favores que não queria fazer?
Você pode estar sofrendo da Síndrome da Boazinha.
O termo foi cunhado pela PhD em psicologia, Harriet B. Braiker, em livro homônimo e se refere à compulsão por agradar.
Mas o que pode existir de errado em querer agradar?
"Como agradadora compulsiva", explica a doutora Braiker, "seus botões de sintonia emocional estão embaralhados na frequência do que você acredita que os outros querem ou desejam de você".
A consequência lógica de estar sempre com foco no desejo do outro é que você acaba não ouvindo sua própria voz interior "que pode estar tentando protegê-la de se desgastar demais ou de agir contra seus próprios interesses"
A compulsão de agradar afeta a forma como você pensa, sente e age no mundo.
Em função disso, a autora do livro 'Síndrome da Boazinha' traça três perfis diferentes de 'agradadoras' motivadas por:
pensamentos distorcidos, opressivos e derrotistas, que nascem da ideia de que todos precisam gostar de você;
comportamentos compulsivos que fazem com que você sempre busque satisfazer as necessidades dos outros antes das suas, na ânsia de obter a aprovação de todos;
e, finalmente:
a tentativa de fugir de sentimentos negativos ou assustadores e evitar a ansiedade, muitas vezes no limite do suportável, que a menor ameaça de conflito gera em você.
Para a psicóloga Margareth dos Reis, um dos motivos da compulsão por agradar é o medo da avaliação externa.
“A pessoa busca reconhecimento e aprovação, e sofre com o receio de ser responsável pelo que o outro pensa”, afirma a psicóloga.
É como se ela achasse que fazendo tudo para agradar o outro, conseguiria evitar reações negativas.
“É normal ter desejo de ser aprovada, assim como ter medo de ser rejeitada. Mas viver em função disso não é bom.”
A primeira tarefa é lidar com a capacidade de dizer 'não'.
O problema de não saber dizer “não” vai além defazer você sentir-se permanentemente sobrecarregada. “É sintoma de um sentimento de insegurança diante da vida e até de falta de um repertório para se posicionar”, afirma a psicóloga. Geralmente, a pessoa não está bem sintonizada com suas próprias necessidades. “Ela só sabe dizer ‘não’ para si mesma.
Para quebrar esse círculo vicioso, a especialista sugere pequenos passos, como escolher determinada situação e expor um ponto de vista contrário ao de um interlocutor qualquer, mesmo que isso gere uma situação emocionalmente desconfortável. “Nem sempre a gente recebe aprovação o tempo todo e de todo mundo, faz parte da vida. O que pode nos confortar é a segurança de estarmos fazendo a melhor escolha possível em cada momento”, afirma Margareth.
Para o filósofo Luiz Felipe Pondé, a mania de agradar é um problema de nosso tempo.
“A gente vive um contrato social em que todo mundo tem que fingir que ama todo mundo, e que todo mundo acha todo mundo legal”, afirma. “Na vida em sociedade tem-se que hipotecar um monte de coisas, inclusive essa negatividade que faz parte do ser humano.”
Embora admita que o "não", ou a atitude de não sentir-se compelido a agradar, possa causar algum prejuízo prático, ele acha que é uma postura que vale a pena no longo prazo. “Suspeito que o ‘não’ pode tornar a pessoa mais desejada, em vários sentidos”.
Dizer “sim” o tempo inteiro é uma espécie de “prisão a céu aberto” para o filósofo.
“Uma mulher que faz isso se dá menos valor.
O desespero e a ilusão de que vai conseguir ser feliz é tão grande que muitas mulheres aceitam esse comportamento”.
Ele critica também essa ilusão de "felicidade" - a partir da ausência de conflito.
“As pessoas fazem um esforço neurótico para evitar os pequenos desgostos e frustrações, mas não tem saída. O universo é um grande 'não' na sua cara, é o contrário da autoajuda.” (...)